quinta-feira, 21 de outubro de 2010

LISAHA - Lançamento



Terça-feira passada, dia 12 de Outubro, o espaço Fábrica Braço de Prata encheu-se de convidados para assistirem ao lançamento do livro Lisaha, da autoria de Miguel Esteves Pinto. A apresentação da obra esteve a cargo da escritora Lídia Jorge, cuja análise reforçou a afirmação de Miguel Esteves Pinto como uma promessa do panorama literário português.

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

QUARTO CRESCENTE - João Negreiros

“quarto crescente”
– Poema do livro “luto lento” premiado e publicado no Cancioneiro “Amo de Ti”




quarto crescente

vou pintar uma parede de cada cor e encostar-me a cada uma para que cada uma seja o que eu quero construir

mas como só tenho quatro quatro não chega por isso vou lá para fora imaginar paredes para que se façam muros que eu quero cair uns altos e até ao tecto que está a fazer de céu

eu quero pintar o ar como quem pinta paredes para sentir os desafios como um ar que se lhe deu

e vou respirar distâncias para as cheirar mais perto

e vou escalar o areado como quem rasga os dedos e ainda assim sorri porque sobe como quem morre

vou pintar o mundo de uma cor única que são todas

e matizar as pessoas com nuances subtis para que sejam coerentes

mas eu vou ficar transparente para que vejam por mim o que eu não quero que dói muito

só que o ar anda racionado e o homem racionalizado

e dizem-me que o não faça que fique quedo como quem respira só para fazer circular o ar como o polícia que diz do acidente que aqui não há nada para ver

e fecharam-me à chave

e fecharam-me a chave dentro duma gaveta que está lá fora e lá longe

e estou a fazer pequeníssimos quadrados nas paredes do meu quarto para simular a imensidão do mundo

mas não me chega falta-me gente e até pus um anúncio no jornal a pedir gente pequenina em part-time para me inundar as paredes vestidas de quadrados que fazem de muros das casas das pessoas lá fora

e dentro do meu quarto corre bem corre muito bem porque as cores começaram a intrometer-se nas almas umas das outras

e agora nem são quadrados

são manchas que eu nem distingo que eu nem percebo que eu nem sei ao certo

manchas que se misturam como quem nada que viajam como quem corre

como quem escorre do tecto

como quem escorre do chão ao tecto

como quem escorre de fora para dentro

como quem se entranha

como quem se une

como quem se mune de aventuras e segredos que quiseram ser contados para deixarem de existir

e a perfeição do mundo interior é ter as barreiras simples feitas para cair

e a sua única tristeza são as arestas que choram no canto porque separam a mãe do filho e a solidão da aventura

e ao meu quarto só lhe falta ser circular para ser o mundo mas lá fora circula

e um dia hei-de sair para dizer a todos que se espalhem ao comprido e debaixo uns dos outros

como quem ama sem saber como

como quem chama sem saber quem

como quem brinca sem saber a quê

e vou-lhes ensinar a verdadeira linguagem dos afectos que é moldável palpável e daltónica

e o mundo vai ser de uma cor melhor o mundo vai ser de duas cores da minha e da tua

in luto lento, de João Negreiros

ONTEM ESTIVE NO INFERNO - João Negreiros



ontem estive no inferno

sabes o que me assustou mais?

foi não ter dado por nada

ontem estive no inferno e não dei por nada porque o que existe lá é o mesmo que existe aqui

ontem estive no inferno e estive mesmo para te chamar
mas achei que não ias querer ver

não tinha nada de novo
e o novo que tinha não era mau o suficiente

era talvez um pouco melhor
um pouco pior
um pouco diferente

mas na essência era o mesmo

o mesmo cheiro

o mesmo sabor

o mesmo som

o mesmo sujo

o mesmo ar

a mesma gente

só que diferente

com roupas rasgadas e esgares de dor

não
espera
o esgar de dor era igualzinho

as roupas
sim
eram diferentes

não
espera
que ontem vi um homem que estava
pois
pois é
nem as roupas

ontem estive no inferno para depois poder contar a todos como é

mas acabei por perder a viagem porque não tenho nada para contar

e o inferno continua

e está a arder nos meus olhos e nos teus também

e nos teus também

e um dia vamos lá parar todos

mas felizmente não vamos sofrer com a diferença

e vamo-nos sentir todos em casa porque a nossa casa é toda a mesma e está a cair como um baralho de cartas que nunca chegou a castelo

ontem estive no inferno e perdi-me lá dentro

e continuo lá

e sei que não vou dar com a maçaneta da porta

e se der não a vou saber rodar

e se a rodar um muro vai tapar a saída

e se o derrubar vai haver um guarda

e se matar o guarda vai haver um homem

e se rasgar o homem vai haver um papel

e não vou ter tesoura

e se tiver tesoura vai aparecer o demónio

e se beijar o demónio na boca e ele me deixar passar para que não conte a ninguém que o amei vai haver um Santo com a inocência ao colo

e não vou ter como o afastar

mas se o Santo perder a inocência e fugir para a procurar eu vou continuar em frente até à próxima barreira que és tu

que eu quero por seres a última

e vou tirar-te à vida devagar
deliciosamente e sem esforço por seres a única e última coisa viva que me impede de encontrar o fim do mundo que é vazio

e magro

e débil

e negro

e seco como o último galgo da corrida

o cão cego que só ganharia se tacteasse o coelho que está no infinito à espera

ontem estive no inferno

ontem estive no inferno

estava lá tudo

estavam lá todos

tu não
tu não
tu não

se estivesses não seria a mesma coisa

in luto lento, de João Negreiros

quarta-feira, 13 de outubro de 2010

TRANSPARÊNCIAS DA ALMA - Apresentação











Apresentação em Alpiarça.

O Auditório da Biblioteca Municipal de Alpiarça foi pequeno para acolher todos aqueles que não quiseram deixar de estar presentes, na passada sexta-feira, 8 de Outubro, no lançamento do livro de poesia «Transparências da Alma”, de José Luís Cordeiro.
O evento contou com a presença do autarca Mário Pereira, do prefaciador e apresentador da obra, Prof. Rui Duarte Coelho, e do ilustrador Adão Teles.

Mais de uma centena de pessoas ouviu serem lidos vários poemas num evento que também contou com um belo momento musical, proporcionado por Francisco Madeira Lopes à guitarra portuguesa, que tocou trechos de Carlos Paredes.

«SOMBRA»
Dói-me o cansaço da espera
Perdi o brilho da aventura
Vesti a vida de quimera
Tirei dos olhos a ternura
Afoga-me o peso da solidão
Nas noites de vida vazia
Quase não sinto o coração
Despedi-me da alegria
Pesa-me a tristeza na vida
Os meus passos são errantes
A minha existência está ferida
São efémeros os meus instantes
Verguei-me ao sabor da mágoa
E passo os dias calado
Para a minha sede falta-me a água
Sinto o corpo enclausurado
Na mudez das horas loucas
Sinto a vida a morrer
Alimento-me de horas ocas
Transporto comigo o meu sofrer
E agora o que resiste
É o vazio dos tempos sem fim
Quem eu fui já não existe
Tenho a morte dentro de mim
In Transparências da Alma

FEIRA DO LIVRO DE PENAFIEL - 2ª EDIÇÃO













A Feira do Livro de Penafiel vai já na sua 2ª edição, tendo como organizador a Associação Empresarial de Penafiel (AEP).
A Feira deste ano começou no passado dia 11 de Outubro e vai estar aberta a todos os que a quiserem visitar até ao próximo dia 17 de Outubro (domingo) entre as 11h e as 22h no conhecido “Jardim dos Namorados” bem no centro da cidade de Penafiel.
Além dos vários stands com as mais diversas livrarias, editoras e distribuidoras pode ainda contar com muita animação e a presença de vários autores que diariamente participam na “Hora do Conto” a decorrer por volta das 15h30 no auditório da Assembleia Penafidelense (em frente á feira) assim como uma tertúlia destinada a pais, encarregados de educação e professores que terá como tema central a relação filhos/pais e educadores a decorrer pelas 21h no mesmo auditório com total apoio da Papiro Editora.