terça-feira, 22 de março de 2011

FLORES DE OUTONO

«Se “o poeta é um fingidor”, como opinava Fernando Pessoa, então António Levi De Meireles merece ser incluído no rol desses predestinados.
Embora algo distante de mim no espaço e no tempo, António Levi De Meireles carregou, tal como eu, o peso de uma educação permanentemente acrisolada na forja da resignada mortificação. E isso, como que “imprimindo-lhe carácter”- no dizer dos teólogos, tê-lo-á impedido de se libertar totalmente das peias de um regulamento tão obsoleto que, não raro, distorcia personalidades e castrava até alguns dos mais legítimos anseios juvenis.
Por isso, ainda hoje, ao falar com o passado mais remoto, muitos dos seus belos poemas são autênticos gritos de alma freudianos contra as catedrais da obediência cega e do silêncio rigoroso e constante, que, à luz de um regimento louvaminhado e álgido como o luar de Janeiro, era a caixa de ressonância dos harpejos divinos em nossas almas. Depois, a “procelosa Revolução dos Cravos, fustigando-o no mar da sua tranquilidade, partiu-lhe barco e remos”, deixando-o à deriva num oceano de responsabilidades e problemas familiares. Assim, não é de estranhar que muitos dos seus lindos poemas sejam tão fortemente repassados de melancolia e saudade de “um tempo feliz, vivido na sua Angola exangue, vendida por um governo de ninguém”. Ao refazer a vida com coragem e abnegado esforço, eu o compreendo e admiro também como homem. Costuma dizer-se que “o estilo é o homem” e que “este é ele e as suas circunstâncias”- filosofava Unamuno. Ora o estilo de António Levi De Meireles encarna bem toda a forte personalidade humana e cultural do autor em maravilhosos versos, muitos deles impregnados de saudade e pessimismo. Mas fá-lo com a perfeição de quem sabe da poda, com muito “saber de experiências feito”. Por isso, os seus versos transpiram a harmonia e a musicalidade de quem, como ele, também é músico. António Levi De Meireles, que bebeu poesia nas puras e cristalinas fontes das correntes poéticas dos séculos XIX e XX, delas soube digerir e assimilar a sua verdadeira essência e expressá-la com genialidade e grande beleza formal. Belas metáforas, lindas comparações, límpidas imagens e muitas expressivas figuras de estilo enxameiam os seus poemas. Por eles perpassa a melancolia do Ultra-Romantismo, a metafísica realista de Antero de Quental, a tristeza e a saudade de António Nobre, a beleza formal, parnasiana, de Gonçalves Crespo, a doce singeleza de João de Deus e de Augusto Gil, a musicalidade de Guerra Junqueiro… Noutros, ressoa, múrmuro e silente, a incomparável beleza dos acordes líricos de Camões e, por vezes até, a harmoniosa contundência dos improvisos de Bocage. Mas, quanto a mim, terá sido o Nacionalismo pedagógico e popular de Afonso Lopes Vieira e Correia de Oliveira, cujo patriotismo e ideais cristãos lhes valeram o ostracismo literário imposto pelo marxismo pós 25 de Abril, que mais o marcou.»

António de Faria
In Prefácio

Título: Flores de Outono
Autor: António Levi De Meireles
Preço: €11,10 

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