quinta-feira, 2 de dezembro de 2010

GARRAS





Foi no passado sábado, 27 de Novembro, que Garras, um conto do fantástico, foi apresentado ao público, na galeria Gesto, no Porto.
Garras tem como personagem principal Valla, um ser metade mulher, metade animal. Ela terá de percorrer um caminho – em contramão – e superar vários obstáculos na busca de si mesma, das suas origens, e de um amor perdido.
Eva Mendes dá corpo a esta história através das suas ilustrações em acrílico sobre papel e tinta permanente. Traços fortes, rudes que, de certa forma, evidenciam o carácter dos seus personagens.
Como a autora escreveu, esta “é uma história de procura de personagens entre um corpo e uma mente que parecem estar errados, e que se vêem obrigadas a viver uma intimidade forçada, a substituir as palavras por gestos e olhares”.
As personagens, que vivem numa espécie de limbo, optam por se entregar à Natureza, ao mundo animal…

“O medo rangia na madeira à medida que as unhas das velhas patas se arranhavam nos próprios passos soando mais alto e mais perto.
O coiote tinha voltado para trás e entrava novamente em casa. Desta vez quase não lhe dando tempo de se esconder atrás das portinholas do armário onde já quase não cabia. Um animal selvagem pode ser feroz e o pai dela, de pêlo ensopado em álcool todas as noites, fazia justiça ao lugar‑comum.
Parou mesmo em frente ao esconderijo. Cambaleou esticando-se nas duas patas traseiras, largas e gastas da idade, da bebida. Esticando o focinho, aspirou o ar uma vez e rosnou o seu nome, fazendo-a encolher-se ainda mais. Rosnou, latiu e depois voltou a sair, não tornando.”

(em Garras, p.v.p. 7€)

Sobre a autora

Eva Vieira Mendes nasceu no Porto, em 1987. É licenciada em Artes Plásticas — Escultura, pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade do Porto.
Estudou em Milão, na Accademia di Belli Arti di Brera, ao abrigo do programa Erasmus e neste momento está a tirar um Mestrado em Ilustração na ESAP, em Guimarães.
Tem participado em inúmeros projectos artísticos mas é na escrita que realmente deixa à solta o seu gosto pelo fantástico e onde as suas ilustrações encontram o parceiro perfeito.