sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

NUVENS CINZENTAS DE MAIO

Foi na passada sexta-feira, 26 de Novembro, que a Livraria Bertrand do Fórum Aveiro acolheu a apresentação do romance de Álvaro Góis, publicado em Outubro.

Nuvens Cinzentas de Maio não é apenas um romance, não se trata apenas de uma história de amor. É muito mais que isso. Esta é uma história que se passa num período muito específico da história de Portugal — o pós 25 de Abril. E Álvaro Góis não foi inocente ao escolher este período específico, uma época conturbada em termos políticos, sociais e culturais.

O autor escreve: “A Primavera de setenta e quatro viera acompanhada com ventos de mudança que, varrendo o país de lés a lés, fustigavam as suas mais variadas estruturas: sociais, militares e políticas. Acontecera finalmente o inevitável.”

E podemos traçar um paralelismo entre o país e a vida das personagens desta história; personagens estas que sofrem todas uma determinada mudança. Não há, portanto, uma mudança radical apenas no país; as vidas de Luísa, de Virgínia, de Célia e de Pedro – que é, concomitantemente, o narrador da história – dão uma grande reviravolta.

É Pedro, um narrador autodiegético, que nos conduz ao longo deste romance onde a ficção e a realidade se fundem.

Álvaro Góis não descurou a introdução de elementos críveis à história; o autor teve a preocupação de pesquisar, por exemplo, quais os filmes que à época estavam em exibição, como o Emmanuelle, com a actriz Sylvia Kristel; o Tubarão, de Spielberg; ou O Príncipe Feliz, de Óscar Wilde. Fez questão também de mencionar alguns espectáculos que, no estrangeiro, causavam furor, como a estreia, em Nova Iorque, do musical Chicago, de Bob Fosse, ou o Quebra-Nozes de Tchaikovsky, em Londres. E fez menção também a algumas músicas que se ouviam, como Jealous Guy, de John Lenon, ou I started a Joke dos irmãos Gibb; assim como também são referidas várias obras literárias de grande pertinência.

Há também referências políticas, como o PREC, as dificuldades de entendimento entre os partidos, o clima de golpes e contra-golpes, a tentativa de destruição da sede do CDS e o “episódio” do congresso do CDS no Palácio de Cristal, no Porto, em Janeiro de 75, em que “activistas de esquerda cercaram o edifício, mantendo os congressistas em sequestro durante cerca de quinze horas”.

Nesta obra fala-se também de religião e de fé, questiona-se Deus e são abordados temas filosóficos, como a “Alegoria da Caverna” de Platão.